segunda-feira, 10 de maio de 2010

1931- Dishonored (Fatalidade)









"Dishonored" - 1931

( Fatalidade)


Diretor: ....Josef von Sternberg
Roteiro: .....Nathan Daniel Rubin (roteiro) , de Josef von Sternberg (roteiro) e Daniel Rubin N.
Música original de .....Karl Hajos e Herman Hand
Cinematografia..... Lee Garmes
Edição por.... Josef von Sternberg
Distribuído por... Paramount Pictures
Lançamento data 04 de abril de 1931 ( Estados Unidos )
Gênero......Drama, Musical e Guerra
Direção de Arte....Hans Dreier
Figurinos de....Travis Banton
Som....Harry D. Mills ....
Departamento de Música.....Henry Binstok
arranjos de música.....Josef von Sternberg
Cor:.... Preto e Branco
Tempo de duração:..... 91 min
País.... Estados Unidos
Idioma.... Inglês


Estrelado por Marlene Dietrich , Victor McLaglen , Gustav von Seyffertitz e Warner Oland

Elenco:

Marlene Dietrich ... Marie Kolverer / X27
Victor McLaglen ... Coronel Kranau
Gustav von Seyffertitz Chefe de Serviço Secreto da Áustria ...
Warner Oland ... O coronel von Hindau
Lew Cody ... Coronel Kovrin
Barry Norton ... Jovem tenente - Firing Squad
Max Barwyn ... Coronel Kranau's Aide
B.F. Blinn ... Gambler with Glasses
Allan Cavan ... Agente do Serviço Secreto no Cassino
Davison Clark ... Oficialda Corte Marcial
Alexis Davidoff ... Oficial
William B. Davidson ... Segundo oficial

A História:
O Serviço Secreto da Áustria envia a sua agente mais sedutora para espionar os russos.

"Dishonored"
, na tradução com o nome de "Fatalidade" é um filme musical de espionagem feito em 1931 pela Paramount Pictures. Ele foi co-escrito por Daniel N. Rubin, dirigido e editado por Josef von Sternberg.

Uma Nota sobre o Diretor:
Josef Von Sternberg emigrou para os Estados Unidos da América, instalando-se na cidade de Nova Iorque. Finda a Primeira Guerra Mundial, onde lutara ao lado do exército americano, foi trabalhar como aprendiz cinematográfico, limpando e reparando fitas danificadas. Estreou-se como diretor com "The Salvation Hunters" (1925), mas só conheceu a fama a partir de "Underworld" (Vidas Tenebrosas, 1927), um dos primeiros filmes de gangsters da História
do Cinema, pelo qual foi premiado com o primeiro Oscar pelo Melhor Argumento.

Em seguida, realizou "The Last Command" (A Última Ordem, 1928), um magnífico filme mudo sobre um general russo que foge do seu país natal e se refugia em Hollywood, onde trabalha como figurante num filme sobre a Revolução Soviética, papel que valeu a Emil Jannings o primeiro Oscar da História como prêmio ao Melhor Ator.

Jannings convenceu Von Sternberg a regressar com ele à Alemanha, onde lhe apresentou a atriz Marlene Dietrich. Juntos conceberam "Der Blaue Engel" (O Anjo Azul, 1930), a obra-prima do diretor, uma história sobre um professor de meia idade que se apaixona por Lola, uma cantora de cabaret que o leva à degradação física e moral. O filme tornou-se um sucesso à escala mundial, obrigando a que o realizador montasse duas versões (em alemão e em inglês) e fazendo de Marlene Dietrich uma estrela.

Sternberg e a atriz iniciaram assim uma relação, tanto a nível afetivo como profissional, já que participaram em mais seis filmes juntos: Morocco (Marrocos, 1930), com Gary Cooper, Dishonored (Fatalidade, 1931), Shangai Express (O Expresso de Shangai, 1932), Blonde Venus (Vênus Platinada,1932), The Scarlet Empress (A Imperatriz Vermelha, 1934) e The Devil is a Woman (O Diabo é uma Mulher, 1935). Com The Saga of Anatahan (Anatahan, 1953), uma história de pescadores japoneses que naufragam e vão parar a uma ilha onde dão largas aos seus instintos animais, Sternberg conheceu o fracasso comercial e o alheamento do público. O seu último filme foi Jet Pilot (1957), com John Wayne. Morreu a 22 de dezembro de 1969,vitimado por um ataque cardíaco.



Então, "Dishonored" ("Fatalidade") (Paramount, 1931), escrito e dirigido por Josef von Sternberg, tem como estrela a alemã Marlene Dietrich e é o terceiro filme sob a direção de Von Sternberg. Após o enorme sucesso da produção alemã de "O Anjo Azul (1929), e sua estréia em Hollywood com Marrocos (Paramount, 1930), foi oferecida a Dietrich a oportunidade de não apenas ser a única mulher na liderança importante, mas uma chance de romper com sua imagem de cantora de cabaré para atuar normalmente no papel de uma prostituta que virou espiã.




Na verdade, o filme foi feito para capitalizar em cima do recente sucesso de "Marrocos", e também foi um modo de uma resposta da Paramount ao filme "Mata-Hari" (1931), de George Fitzmaurice protagonizado por Greta Garbo, no duelo que se travava entre a Paramount e a MGM por causa das duas divas dos anos 30 ( Greta e Dietrich) e talvez por isso "Fatalidade" tenha tido um menor significado, porque ele foi lançado ao mesmo tempo de "Mata Hari", e infelizmente em comparação, na época, foi considerado lento, com os trajes de Dietrich não tão bem cuidados e sua atuação ficava comparativamente menor em evidência com Garbo e assim o filme foi prejudicado, embora ele seja considerado como um sucesso em tudo.


Com melodramas envolvendo espionagem assim como os mais conhecidos na interpretação de Greta Garbo, da MGM, "A Mulher Misteriosa" (1928) e, "MataHari" (1931), o filme Fatalidade é uma tentativa em algo similar, diferente apenas em termos de estilo de direção de Von Sternberg, dando a esta produção uma impressão mais europeia do que propriamente americana. Embora este método não fosse novo em 1931, ele ainda deveria deixar uma impressão duradoura, especialmente para estudantes de cinema.




"Dishonored" é uma obra-prima não muito apreciada, talvez pela comparação ao filme da mesma época da MGM, como já foi evidenciado anteriormente. Freqüentemente omitido da lista de colaborações entre Von Sternberg e Dietrich, o filme é absolutamente essencial para uma compreensão da técnica artística do diretor e da evolução da atriz em seu status como um ícone para a 'femme fatale' subseqüente.




Von Sternberg aplica uma rica seqüência de camadas de estilo que embelezam o fascínio impressionante de Dietrich como uma mulher inteligente, envolvida em uma missão mortal para obter mais poder temporal, sob a forma de inteligência militar ultra-secreta e capacitação sobre os homens que ela manipula. Ao longo do caminho, a sua interpretação penetrante de convenções sociais representa um claro-escuro de fantasia surrealista, em contraste com a realidade sórdida da desgraça que engolfa sua heroína, que é finalmente transformada em mártir de sua própria feminilidade.




Assim, "Fatalidade" trata-se de uma sinuosa história de espionagem em tom de trágico e romântico sobre uma espiã austríaca, antiga prostituta, que se apaixona por um oficial inimigo e acaba em frente ao pelotâo de fuzilamento. Aliás, a célebre cena da execução de Marlene, que retoca a pintura e compõe as meias antes de morrer sob uma rajada de balas é um dos mais prodigiosos exemplos da maestria de Sternberg e do seu particular olhar sobre a morte.




Mas esta célebre cena de Fatalidade é, também, a expressão máxima da mágica e irresistível sedução do anjo azul, da Marlene insolente e provocadora até aos limites do possível. Um grande e memorável filme do cinema americano dos anos trinta que ajudou a criar a lenda da mulher-fatal mais deslumbrante de sempre, que ainda é Marlene Dietrich.

Von Sternberg também dá muitos exemplos de sua famosa iluminação, tornando o olhar de Dietrich ainda mais sedutor, cansado, despreocupado, e enigmático do que nunca. Vale a pena conferir a cena de perto no início, quando Marlene Dietrich caminha até a câmera, a poucos centímetros de sua lente. É uma cena marcante de Marlene, hipnótica poderia ser dito, quando ela apenas dizendo: "Não." "Sim". "Nããão" e "Talvez" .




Em outro diálogo ela está numa série bem hilariante e inimitável de "Meowwws" ( uma vocalização utilizada pelos gatos para sinalizar um pedido a sua mãe). Imitando um gatinho, ele tenta seduzir o guarda, onde a cena final é surpreendente.

Não há registro de  sua voz cantando em algum tempo do filme, mas toca piano com muita técnica e fluidez. Empresta ao filme de Sternberg uma imagem de um grande erotismo, com destaque para a cena do fuzilamento, como já foi mencionada, uma das mais provocantes do cinema norte-americano antes da entrada em vigor, em 1934, do código de censura de Hollywood, que proibia a nudez, violência explícita e a blasfêmia.



O filme foi praticamente uma vitrine pessoal para von Sternberg. Ele não só dirigiu, mas também produziu a história original, escreveu o roteiro, fez sua edição e compôs a música original para ele. Como em todos os seus filmes ele mostra uma influência dominante no uso da apresentação visual e no estilo pictórico.

Mesmo que não se saiba nada sobre Dietrich e von Sternberg, ao assistir esse filme vê-se um lampejo de que o homem estava envolvido no amor, pelo menos, pela imagem da mulher. Sua câmera quase parece a acariciá-la, por vezes, e a iluminação acentua as maçãs do rosto de forma a emoldurá-lo como esculturas. Nenhuma outra atriz recebeu o tipo de atenção na tela como Dietrich recebeu de von Sternberg, e ele provavelmente é mais responsável por criar a lenda que ela passou a representar.




A história é vagamente baseada na vida da famosa espiã da I Guerra Mundial, Mata Hari , mas von Sternberg traduziu o cenário à sua Viena natal. Desde que a história se passa em 1915, ano em que von Sternberg chegou aos seus vinte e um anos é provável que ficasse imbuido de algumas lembranças pessoais sobre o lugar. Embora " Dishonored" não tenha atingindo o mesmo pico de algumas obras poéticas suas, o filme ainda assim é superior ao Mata Hari, (na opinião geral) pois tem muitos elementos interessantes, como o Baile de Máscaras numa seqüência verdadeiramente fabulosa e von Sternberg além disso evidencia os sentimentos sobre a guerra e a honra.




E talvez seja um dos melhores dos seus, embora seja ironicamente o menos conhecido e o mais desconsiderado, mas tendo a opinião de Jean-Luc Godard que uma vez o incluiu em uma lista de seus dez filmes favoritos americanos. É também o segundo filme (americano) feito por este diretor com Dietrich, embora tenha sido completado antes de ser lançado o primeiro ( Marrocos ), e em alguns aspectos é o mais esteticamente perfeito de todos nas suas características sonoras. Nele, Dietrich é o agente X-27, um personagem claramente inspirado por Mata Hari, que era nome artístico de Margaretha Geertruida Zelle, uma dançarina exótica dos Países Baixos acusada de espionagem que foi condenada à morte por fuzilamento, durante a Primeira Guerra Mundial.




A maioria das pessoas não gosta deste filme de Josef von Sternberg, considerando-o abaixo dos outros, entretanto seu estilo e o tratamento de sombreamento em preto e branco adiciona enormemente para a toda atmosfera do filme, sendo que a cinematografia abrange também a criação contínua de filme, onde mostra a 'persona' de Dietrich em torno deste tempo, como a femme fatale que aparentemente revela tudo o que sabe, mas o seu amor, num final definitivo, a faz pagar o preço por isso com sua própria vida. Talvez, também, por ser meio alemão numa linguagem cinematográfica mais europeia do que americana a comparação tenha dado mais louros ao filme da MGM.




O filme também mostra a crescente preocupação do diretor com a imagem de Dietrich e o resultado é tão irresistível que não se pode evitar a admiração de vê-la transformar-se em algo completamente diferente, uma garçonete simples, quase irreconhecível, mostrando como através da imagem, e qualidade de talento da atriz, como algo que poderia ser alcançado na década de 30.




Von Sternberg faz com a câmera, especialmente close-ups do rosto de Dietrich, sobreposto por um lugar de ação quando ela interpreta a sua peça favorita no piano (("The Anniversary Waltz"), ou uma sobreposição dos olhos de um gato para refletir o humor do personagem de Dietrich sem medo. Com Dietrich vestindo diversos disfarces, a sua melhor volta é a risada tímida da camponesa russa
.



As cenas finais de Dietrich, após a detenção do personagem e de condenação, são inesquecíveis, assim como a fotografia e a direção do filme pelas cenas apresentadas. As cenas finais deixam um efeito prolongado de tristeza e melancolia após a palavra "The End" que aparece na tela. A beleza da cena é favorecida pela pontuação musical excepcional e, numa mistura de surrealismo e realidade simultaneamente faz aparecer Dietrich enfrentando corajosamente o pelotão de execução, ao retocar sua maquiagem como um verdadeiro exemplo do toque do diretor e de uma atriz de talento a inundar a história com pura magia.




Essa execução de Dietrich nas mãos de um pelotão de fuzilamento das quais soam o som dos tambores em sentido militar, as vozes dos soldados e armas, faz o espectador chegar a um nível diferente de emoção que leva esta cena ao clímax, não só pela música acompanhando o desenrolar dos fatos, mas tanto quanto pelo fato de que o jovem tenente responsável pela escolta de X-27 até a sua morte é o mesmo soldado que já havia acompanhado-a no seu primeiro dia no serviço secreto.




"Completamente uma caminhada, não é? ele observou. Ao que ela respondeu: 'Eu não me importo de andar". Até o momento eles chegaram no escritório e o soldado confessou: "Devo dizer-lhe, eu poderia andar com você para sempre". Na cena final, ao entrar com X-27 na célula de execução e solicitando que a espiã o seguisse, ela com uma risada desdenhosa lhe pergunta: "Será que vamos andar juntos de novo?

Quando ela enfrenta o pelotão de fuzilamento, é o mesmo soldado jovem que tem a responsabilidade de dar a ordem para disparar. Assim, segue uma seqüência notável: um tiro, o tenente hesita: "Eu não vou matar uma mulher. Eu não vou matar mais homens também. Você chama isso de guerra? Eu chamo isso de açougue.Você chama isso de servir o seu país? Você chama isso de patriotismo? Eu chamo isso de assassinato".

 Isso seria banal em si, se não fosse o fato de que diante de todo este discurso apaixonado a espiã X-27 é vista retocando o seu batom.




Mas talvez o mais interessante e os aspectos mais fortes do filme sejam os sentimentos de guerra anti-refinados e a expressão cada vez mais de Dietrich da ironia feminina. Para os homens as atividades sérias e papéis a desempenhar na vida envolvem a condução da guerra, ao passo que o amor é apenas um jogo, uma diversão. Mas, para Dietrich, e, por inferência a todas as mulheres, a atividade mais séria é o amor e preservar a vida de uma pessoa amada, torna a guerra em algo secundário.




A partir da perspectiva social, o papel de Dietrich como uma espiã e uma anfitriã dos homens é considerada a mais desonrosa forma de conduta da mulher. Ela expressa renúncia irônica, pois que ela não tem resposta, e não há contra-argumentos oferecidos. Mas é a ironia a expressão visível de que a guerra é estúpida selvageria, enquanto que o amor humano é o enobrecimento verdadeiro.




Baleada por um pelotão de fuzilamento por trair seu país, a personagem principal em Fatalidade morre, mas é uma morte estranha pois, apesar de (ou talvez mesmo por causa) de que ela parece absolutamente triunfante. A morte se torna triunfo. A mensagem do filme parece ser que o triunfo é uma moeda que se paga pela independência, pela fortaleza de caráter, para a assunção de si mesmo nos seus desejos. A morte tem sentido no triunfo. É esta situação - a situação que leva à morte como o único triunfo disponível - é que parece assentar-se no coração do filme 'desonrada' e o define para além de outros do ciclo.








As cenas de abertura são ótimas. Primeiro, vê-se as pernas de Dietrich em uma rua chuvosa, e ouvir a chuva batendo em um cano quebrado, se ajusta ao fato do comentário de Dietrich diante do assassinato de alguém ao dizer que ela não tem medo da vida ou da morte e isso é ouvido pelo chefe do serviço secreto. Ela o convida para o quarto, e enquanto a sua profissão não é expressamente referida, não nos resta qualquer dúvida quando o oficial faz face às despesas. Ela anda em volta do seu pequeno apartamento apertado, irradiando atração sexual, e se joga para uma cadeira com uma perna sobre o braço em um convite aberto.




O filme só se torna evidente que é uma história de amor entre espiões rivais quando estamos bem integrados a ele. O espião da oposição é o grande Victor McLaglen que realmente é uma escolha estranha para interpretar o papel. Ele sorri durante sua interação verbal, como se uma mão invisível tivesse torcido o seu braço por trás das costas enquanto Dietrich revira os olhos sem mover a cabeça, e não há absolutamente nenhuma química entre eles. O papel é chamado para um elemento de suavidade arrojada que McLaglen simplesmente não possui. McLaglen é uma escolha estranha para um herói romântico. A maioria de suas peças enfatizam o blefe, mesmo com bom humor cínico ou tenacidade viciosa. Aqui ele sorri consciente e se move com facilidade no uniforme destoando um pouco. Talvez ele sorria demais, mas o saldo de sua jovialidade com a palidez de Dietrich é intrigante.




Este papel do coronel Kranau foi oferecido a Gary Cooper , mas ele recusou porque não queria trabalhar com o diretor Josef von Sternberg novamente, com o qual trabalhou no filme "Marrocos", também de 1931. Em outros comentários, ele teria dito que não mais trabalharia com Dietrich, mas ele volta em 1936 a fazer o filme "Desire" com ela. Gary Cooper foi a escolha original para a peça e, com base nisso, é uma pena que ele tenha recusado a trabalhar com von Sternberg aqui, porque Cooper seria certamente um ator perfeito para Sternberg, com seus desempenhos internalizando emoção coisa que McLaglen não dá a impressão de ter.



Entretanto, McLaglen é um grande ator conhecido principalmente por seus papéis em ações de caráter como os filmes de John Ford, atuando normalmente como companheiros. Definitivamente não é um símbolo sexual para atuar com Marlene.




Interessante é que McLaglen, como Kranau, exibe o físico com a mesma arrogância em relação às mulheres que Cooper mostrou em Marrocos. Este é um tema constante com von Sternberg. Infelizmente, porém, McLaglen não oferece a sensibilidade subjacente que estava à espreita em Cooper, e assim Dietrich nunca atinge a química romântica que estava em exibição no filme Marrocos.

Magda ou Marie, ou uma mulher sem nome, personagem principal, é uma mulher que, apesar de ser uma prostituta, não está dependendo da sua natureza sexual para defini-la, pois ela mantém-se com sua dignidade intacta e com sua auto-estima íntegra. Sua prostituição define como ela é olhada, mas não como ela olha pra si mesma. Na verdade, sua sexualidade é uma das coisas menos úteis que uma audiência do filme tem como um guia para uma compreensão real de quem ela é. Para tal, algumas pistas são dadas como bonecas, seu piano, suas roupas, seu gato e seu olhar, se bem que por trás apareça sempre a natureza da mulher sexual sob sua pele.




Pequenas bonecas são suspensas com elástico em seu apartamento. Estas são figuras femininas com caudas, divertidas e demoníacas ao mesmo tempo. Elas sorriem parecendo que formam algo claro, mas não está claro o porquê. Assim, estas bonecas enigmáticas são as próprias miniaturas da enigmática mulher. Talvez, essas figuras tentem recuperar o controle das mulheres que são apenas párias sociais, mas como os demônios reais e, em seguida, deliciando-se com sua celebração demoníaca em uma espécie de fortaleza. Sei lá... mas quando o austríaco do Serviço Secreto toca o piano são as bonecas que dançam, fazendo o comentário, zombando do que ele não consegue manejar bem.




Assim, as bonecas dançam quando o chefe do Serviço Secreto austríaco toca seu piano, e ele toca mal, com uma mão pesada. Sua hipótese é que uma prostituta não teria nenhum sentimento pela música, mas ela é um músico melhor do que ele, e ela demonstra isso por tocar imediatamente depois dele e colocá-lo à vergonha. Vergonha é o sentimento que ele, e o da sociedade, teria de esperar que ela sentisse, e desviando-se ela faz uma declaração poderosa. Ela é uma mulher culta, e não apenas a puta da rua. Mais tarde no filme, ela se torna mais explícita em relação entre essas duas coisas, seu talento musical e sua prostituição. Quando aguardando sua execução ela pede duas coisas: suas roupas de prostituta (fantasia) e seu piano.




O mestre espião fez seus pressupostos de seu talento musical baseado no que ele viu no seu desgaste. Ela coloca as roupas novamente com orgulho desafiador, mas ela também pede o piano que é a outra metade. Trata-se do interior para combinar e complementar o exterior. É uma declaração desafiadora de identidade feita por uma mulher que está consciente de que é a manifestação dessa identidade que a levará a sua própria morte.




E é assim que se vê na imagem magnética, onde ela assiste Kranau escapar através da janela, com os padrões de luz a atravessarem o seu rosto como um véu de fluidos, e ela usa uma expressão de êxtase erótico. Ela está caindo para a morte e é a vitória agora, e ela sabe disso. Nesta cena ela faz o que parece ser uma clara decisão de soltá-lo. Quando interrogada ela diz: "Talvez eu o amasse". Bem, talvez ela fez - mas, novamente, talvez ela não o fez. Parece mais provável que a queda da arma é uma tentativa deliberada de se tomar, em seus termos e em seu tempo, a morte que ela entende como inevitável, a morte que é a culminação de seu próprio desejo.



Ela fala da morte como uma maneira de resgatar uma vida inglória, mas ela mostra não ter nenhum sentimento de culpa ou vergonha pela vida que leva. Em uma das declarações mais importantes do filme, ela diz: "Eu não tenho medo da vida. Mas eu não tenho medo da morte também. Esta é uma declaração poderosa e ambígua que descreve, logo no início da peça, a linha central do pensamento do personagem.

A vida como uma prostituta ainda é vida e ela se envolve ativamente em seu interior sem qualquer perda de dignidade pessoal. Ironicamente, é esse desafio, esse orgulho próprio e auto- compreensão que a obriga a usar estratégias de complexidade para a função, e que eventualmente a leva para o amor, apesar de sua força de vida levá-la a sua própria morte.




Tais complicações refletem a natureza do objeto e enfatizam a pulsão de morte no coração de um personagem tão cheio de vida. Ao longo do filme, ela fala da morte como algo que pode redimi-la ou tornar sua vida melhor. Ela diz que não tem medo da morte (ou vida), mas é a morte que ela abraça, não em um ato de suicídio, mas como o culminar apenas de sua batalha com os homens no filme e no mundo. Sua preparação para sua execução, sua fantasia, a aplicação deliberada e provocadora do batom, deixa claro que este é um show, algo para ser visto e realizado. E é um show eficaz. E, no entanto, eficaz como é, ele ainda termina com a morte dela.



Sternberg afirma que ele não gostou do título deste filme porque sua heroína não foi "desonrada", ela foi executada. Sob a forma de magnífica presença de Dietrich, o filme apresenta poderosamente, em uma forma complexa e ambígua, a falta de honra, que é característica da forma como as mulheres são tratadas na sociedade e também como elas são representadas no filme. Como X27, os métodos são complexos e contraditórios, e que provavelmente são mostrados de forma inebriante e difícil no belo filme que em si é absolutamente verdadeiro.




No mais, o filme é bom o suficiente para sustentar os 85 minutos de duração e se move cheio de dispositivos como painéis secretos em paredes, mensagens secretas enroladas e escondidas dentro de um cigarro, mensagens secretas disfarçadas como notas musicais, suicídios nobres e pelotões de fuzilamento. O final é bastante pessimista para um filme de acordo com a corrente escapista de Hollywood dos anos 30.


Enredo:
Em 1915, durante a 1ª Grande Guerra, numa rua de má fama em Viena, Magda ou Marie, uma prostituta local, recebe um cliente com quem tem uma estranha conversa. O homem tenta convence-la a trabalhar para uma potência estrangeira inimiga da Áustria. Magda recusa e reage violentamente, o que satisfaz o homem, que é na verdade o chefe dos serviços secretos austríacos e apenas testava o patriotismo de Magda. Esta torna-se espiã, sob o nome de código X-27, e começa por desmascarar o chefe do exército que é um traidor a soldo da Rússia. Porém, o caso com o aviador russo que se faz passar por oficial austríaco vai ser a perdição de Magda, que atraiçoa o seu país por amor e morre fuzilada.


Sinopse:
A abertura do filme dá uma descrição que vale repetir aqui: "1915 - Um anel de aço circunda Viena ... estranhas figuras emergem da poeira da queda do império austríaco, um deles, listados nos arquivos secretos do escritório de guerra, como X-27 que poderia ter sido o maior espião na história ... se X-27 não tivesse sido uma mulher. "




A história começa em Viena, em uma noite chuvosa, onde uma multidão de pessoas testemunham um corpo sendo levado em uma ambulância. Ao ouvir uma prostituta (Marlene Dietrich) fazendo um comentário: "Eu não tenho medo da vida, embora eu não tenha medo da morte também". Um homem misterioso (Gustav Von Seyffertitz) aproxima-se dela e vai lhe fazer companhia em seu apartamento, quando ele lhe oferece um emprego a ganhar algumdinheiro fácil como um espião. Percebendo a sinceridade do homem para seu país, e uma oportunidade para a aventura, a mulher chega ao quartel- general onde ela aceita sua nova função, apesar de possíveis perigos e riscos elevados.




Dietrich é uma prostituta, em Viena. Seu nome é Marie Kolverer, a viúva de um capitão morto na guerra. Ela é recrutada pelo austríaco chefe do serviço secreto, interpretado por Gustav von Seyffertitz, para usar seus encantos femininos a serviço do esforço de guerra da Áustria, operando como um espiã.

Marie Kolverer é uma pianista de talento e tem um gato preto de estimação, que será importante mais tarde como elementos do enredo. Sua primeira missão é interceptar um espião que trabalha para os russos (Warner Oland), e o seu próximo adversário é o ardiloso espião russo Coronel Kranau (Victor McLaglen).




Trabalhando sob o nome de X-27, e como sua primeira tarefa é espionar General Von Hindau (Warner Oland), a quem ela pretende conhecer num convite feito para um baile de máscaras, sabendo que as informações para os russos são passadas através de um palhaço que é seu contato. Com o seu trabalho ela logo descobre que o tenente Kranau (Victor McLaglen) e Korvin Coronel (Lew Cody) são como possíveis ameaças ao seu país.



Marie vai a essa festa de máscaras numa cena espetacular, uma das melhores apresentações visuais de von Sternberg. Com os personagens todos em trajes mascarados e fitas de papel e balões de hélio que voam por todos os lados, e para que os tiros sejam parcialmente ocluídos pelas flâmulas, von Sternberg utiliza continuamente em movimento de luz e sombras para criar uma atmosfera mágica. Há também o uso de especialistas de 'tiros de separação' para criar uma sensação de espaço no palco da festa. Na festa Marie é apresentada a dois outros personagens, o coronel Kranau (McLaglen) e Coronel von Hindau (Warner Oland).




Von Hindau, encantado com Dietrich, a convida para seu apartamento, onde Dietrich mostra suas habilidades de pianista e, finalmente, descobre novamente a prova de que von Hindau é um espião traidor, dando informações para o exército russo. Quando exposto, von Hindau comete suicídio, e Dietrich sai para um cassino para pegar seu parceiro, Kranau. Também Kranau, é claro, é fortemente atraído pelo charme de Dietrich mas ele consegue enganar Dietrich nesta cena e vai embora, e Dietrich volta ao piano para mostrar suas habilidades mais uma vez.




O trabalho de Dietrich é também para espionar a sede do exército russo, perto da fronteira com a Polônia, e ela vai lá disfarçada como uma empregada doméstica de aparência simples e ouve dos russos os planos para invadir a Polônia, em quatro dias. Depois de evitar a sedução pelo coronel russo Kovrin por ficar bêbado, X-27 passa a noite na codificação da ofensiva russa numa notação de partitura musical.



A cena em que ela seduz um ajudante russo e faz ele ficar bêbado é famosa. Aparentemente, temos visto o suficiente de Kolverer(Dietrich) tocando piano, a ponto de aceitar que ela é um prodígio musical. Por conseguinte, ela usa o recurso de transcrever em notação musical como o exército russo planeja seus ataques e oculta este papel entre suas coisas.




Kranau que tinha marcado um encontro com Marie e sabendo que esta está com a missão de espioná-lo começa a examinar sua sala, percebendo o gato preto de Kolverer, ele o pega no colo, encontrando a partitura musical, que ele imediatamentediatamente descobre que é uma mensagem secreta.




Ele vai tocar a partitura no piano, mas não consegue descobrir o que significa, então ele queima a pontuação, apenas para se certificar de que esta mensagem não vai voltar para o exército austríaco.

Ele também diz a Kolverer que, apesar de ele ficar encantado por ela, confessando o seu amor, ela terá que ser executada como um espiã pela manhã. Esta notícia não impede os dois de fazerem amor naquela noite. Na parte da manhã, no entanto, Dietrich consegue escapar pela adição de bebida dada a Kranau, o que faz ela voltar para o exército austríaco.

Quando é tocada por Kranau no piano a música de Kolverer, ela se comprometeu a memória. Agora, de volta ao Serviço Secreto Austríaco, ela interpreta a peça no piano por memória e a transcodifica de volta em uma mensagem. Com informações sobre os planos do exército russo, os austríacos derrotam os russos, e muitos soldados russos são feitos prisioneiros, incluindo Kranau.




Os amantes se encontram novamente quando Kranau é preso e identificado como H-14 do serviço secreto russo. Enquanto os prisioneiros russos desfilam diante de seus captores austríacos, eles são convidados a declarar seus nomes, e na trilha sonora, ouvimos um deles se identificar como "Ivan Turgenev", que foi um romancista russo do séc XIX e assim mostra-se desde cedo o humor hollywwodiano. Dietrich está presente quando Kranau é identificado, e ela pede permissão para interrogá-lo sozinho, a fim de descobrir o que ele sabe. Mas quando ela está sozinha com ele, ela deixa ele roubar sua pistola, permitindo que ele escape.




Kolverer é submetida à corte marcial e condenada a morrer por traição ao permitir que um prisioneiro chave escapasse, simplesmente como resultado de alguma alteração casual. Dietrich responde suavemente em sua defesa que talvez ela realmente amava ele. Seu acusador no tribunal lembra então que ela estava apenas com Kranau por algumas horas e que é o tipo de amor que pode ser comprado nas ruas, diz ele, com desdém. Dietrich responde,com sua ironia característica, "Eu suponho que eu não seja muito boa."




Quando ela está percorrendo ante ao pelotão de fuzilamento, ela pede para vestir as roupas que usava quando ela servia seus conterrâneos (como uma prostituta) e não quando ela serviu a seu país. Ela também pede um piano e o toca em sua cela para o tempo final. Quando ela está prestes a ser baleada, o jovem soldado comandando a artilharia de execução se recusa a ordem de fogo, em protesto que se trata de um simples assassinato. Mas ele é substituído, e Kolverer depois de ajustar seu batom e meias, é derrubada, X-27 é executada ao final do filme. Esta cena da execução evidentemente reflete a execução efetiva de Mata Hari bem de perto.


As Músicas do Filme:
"Donauwellen (Danube Waves)" ("Donauwellen (Ondas do Danúbio)"
(Base para a "Canção de Aniversário")
Escrito por Iosif Ivanovici
Tocado no piano por Gustav von Seyffertitz
Reprise no piano por Marlene Dietrich várias vezes
Jogaram como música de fundo no final

"The Blue Danube Waltz, Opus 314" ("A Valsa do Danúbio Azul, Opus 314")
(1867)
Escrito por Johann Strauss
Jogado na festa a fantasia para dance music

"Kaiserlied (Hino Nacional da Áustria de 1795-1918)"
Música de Joseph Haydn
Letra por Lorenz Haschka Leopoldo
Tocado à meia-noite pela orquestra na festa à fantasia

"Sonata No.14 em C sustenido menor, Op.27 'Moonlight' No.2"
Escrito por Ludwig van Beethoven
tocado no piano por Marlene Dietrich










Até a próxima postagem com mais musicais.


                                                                 

Levic

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